Neste domingo, 31 de março, quando se completam 60 anos do golpe civil-militar no Brasil, é crucial recuperar a memória do período ditatorial e reiterar o “ódio e nojo” por tal regime, bem expressados por Ulysses Guimarães na promulgação da Constituição Federal que hoje rege o país. Evitar a realização de eventos relativos à efeméride, como o governo federal orientou seus ministérios a fazer, é fechar os olhos para os ecos que o acontecimento ainda produz no presente.
A participação direta de militares e da cúpula do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro na mais recente tentativa de golpe, ocorrida em 8 de janeiro de 2023, evidencia que o restabelecimento de uma ditadura militar encontra apoio em parcelas da sociedade brasileira.
Tal suporte muitas vezes se fundamenta, em parte, na percepção equivocada de que o regime militar foi menos corrupto do que os governos democráticos, ou na instrumentalização, por golpistas, do discurso de combate à corrupção. Marcar o aniversário do golpe de 1964 destacando suas consequências nefastas é fundamental para demonstrar e reiterar que o que havia, na realidade, era a supressão de direitos.
A censura, o sigilo, a repressão violenta à oposição ou a críticas e a ausência de mecanismos democráticos de controle do poder público criaram um ambiente onde não havia transparência nem prestação de contas, e a corrupção tinha ainda mais espaço para prosperar.
Como a Transparência Brasil relembrou na campanha Os Ilusíadas, casos de irregularidades foram revelados no período, apesar de o regime perseguir, torturar, sequestrar e assassinar pessoas que ousaram investigar e expor seus agentes. É de se imaginar o que ficou nas sombras.
O resgate da memória do sofrimento e dos prejuízos gerados pela ditadura militar – que ainda impactam as vidas dos brasileiros – e a responsabilização daqueles que tentaram repeti-la são indispensáveis para que o fortalecimento da democracia brasileira, sobre o qual tanto se fala e que a sociedade tanto clama, seja sólido.