Transparência Brasil completa 25 anos de defesa do interesse público; conheça sua história

Desde a sua fundação nos anos 2000, a organização tem o propósito de fortalecer a democracia ao buscar aperfeiçoar as instituições do país. Esta é a primeira de uma série de reportagens sobre a história da TB

Anúncio da fundação da Transparência Brasil em artigo de Rubens Naves, um dos associados fundadores da organização, publicado no jornal Gazeta Mercantil em 15.mar.2000, com o título A Transparência no Brasil
Anúncio da fundação da Transparência Brasil em artigo de Rubens Naves, um dos associados fundadores da organização, publicado no jornal Gazeta Mercantil em 15.mar.2000

É 29 de fevereiro de 2000. Um grupo de indivíduos se reúne em São Paulo. Notáveis em suas áreas de atuação, representam diversos setores da sociedade civil, de professores a empresários, jornalistas, magistrados e procuradores de justiça. Uma inquietação em comum os levou ali: a timidez das medidas do poder público e de órgãos de controle no combate à corrupção no Brasil, cujos casos dominavam as manchetes.

A Transparência Brasil foi fundada um mês após aquele encontro, com a missão de combater as raízes da corrupção no país para promover mudanças sistêmicas, melhorar a qualidade e a eficiência dos gastos públicos e fortalecer a democracia. O propósito continua a mover a entidade: “Nosso objetivo é fazer com que as instituições funcionem melhor e que isso leve a uma relação mais saudável entre a população e o poder público”, enfatiza Eduardo Capobianco, um dos associados fundadores e presidente do Conselho Deliberativo da TB. 

O movimento de combate à corrupção que se expandia na década de 1990, com o surgimento de entidades e organismos internacionais, inspirou a criação da organização. Segundo Capobianco, essa mobilização global se pautava em legislações e medidas voltadas à Europa e América do Norte, como a Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em 1997. 

Ao estabelecer a Transparência Brasil, os 33 fundadores buscaram uma abordagem nacional para o tema. “A nossa preocupação era interna, baseada em questões importantes que aconteciam no Brasil, […] porque as causas [da corrupção] eram diferentes das dos outros países, em especial dos desenvolvidos”, destaca o empresário. De 2000 a 2007, a TB representou a Transparency International (TI) no país. 

Capobianco recorda que as questões internas de corrupção só vieram a público com o então recente retorno da democracia e fim da ditadura cívico-militar. Para ele, “a democracia fez aparecerem coisas que no passado não se podia falar”, trazendo à superfície mazelas iniciadas no regime de exceção e que deveriam ser tratadas com mudanças sistêmicas.

À época, as medidas de combate à corrupção eram adotadas principalmente pelo Ministério Público, que agia principalmente em reação aos escândalos revelados pela imprensa, como nos casos de Fernando Collor e dos Anões do Orçamento,  segundo o advogado Rubens Naves, também sócio fundador e atual membro do Conselho Deliberativo. 

“A conjuntura era de grandes escândalos pontuais e uma resposta ineficiente por parte do poder público e dos órgãos de controle, como os tribunais de contas”, avalia Naves. Para o advogado, a criação da Transparência Brasil surge a partir da inquietação da sociedade civil frente a essa ausência de ação articulada de combate à corrupção no país.

Para transformar o cenário e promover o aperfeiçoamento das instituições, a TB adotou, de forma pioneira no Brasil, a coleta, análise e divulgação de dados públicos como suas principais metodologias, além da elaboração de mecanismos de fiscalização e monitoramento social.

O modo de trabalho e o rigor técnico consolidaram a TB como fonte de conhecimento qualificado tanto para a sociedade e imprensa quanto para o poder público. Já no início de sua atuação, a organização se reuniu com o então presidente Fernando Henrique Cardoso para envolver o governo em um movimento articulado de combate à corrupção. 

Posteriormente, os candidatos à presidência em 2002 assinaram uma carta de compromisso com o aprimoramento dos mecanismos estatais de enfrentamento da corrupção, apresentada pela TB.

“Infelizmente, o diálogo que a gente achou que esse documento iria propiciar entre o governo e a sociedade civil não aconteceu. Nós fomos ignorados durante muito tempo, e depois tivemos que ter uma atitude mais crítica com o Executivo federal da época”, recorda Rubens Naves.

O legado

“Qual o sentido dessa iniciativa (…)?”, questiona Naves em artigo que anuncia a criação da Transparência Brasil em 15.mar.2000 na Gazeta Mercantil. 

Depois de vinte e cinco anos, ele torna a responder: com a organização, um conjunto de ideias sobre combate à corrupção se transformou em ação sistematizada. “A corrupção é um fenômeno internacional, mas as experiências de combatê-la são muito ricas e diversificadas. A TB trouxe para o Brasil essa complexidade e o diálogo aprofundou-se. Esse é um legado grande”, declara.

O propósito da TB de criar mecanismos que facilitem o acesso e controle social da sociedade e da imprensa permanece ao longo dos anos, para Eduardo Capobianco. Ele afirma que a organização trabalha com temas que variam conforme a conjuntura da sociedade brasileira, mas a entidade persiste no aperfeiçoamento das instituições para reduzir as janelas para desvios e ineficiência no poder público.

Os fundadores

Os 33 fundadores da Transparência Brasil que possibilitaram a construção deste legado são: 

  1. Aristides Junqueira Alvarenga
  2. Bruno Wilhelm Speck
  3. Claudia Souza de Murayama
  4. David Fleischer
  5. Denise Frossard
  6. Dyrceu Aguiar Dias Cintra Junior
  7. Edson Luiz Vismona 
  8. Eduardo Ribeiro Capobianco 
  9. Elizabeth Sussekind 
  10. Fernando Celso Garcia de Freitas 
  11. Fernando Cláudio Antunes Araújo 
  12. Francisco Whitaker Ferreira 
  13. Guilherme Amorim Campos da Silva 
  14. Iradj Roberto Eghrari 
  15. Jerry Greene 
  16. Jorge Luiz Numa Abrahão 
  17. José Alves de Sena 
  18. José Carlos Amaral Kfouri 
  19. José Mauro Gomes 
  20. Kenarick Boujikian Felippe 
  21. Ladislau Dowbor 
  22. Luiz Pedone 
  23. Marcos Fernandes Gonçalves da Silva 
  24. Modesto Souza Barros Carvalhosa 
  25. Neissan Monadjem 
  26. Nilson Seizo Kobayashi 
  27. Oded Grajew 
  28. Ricardo Young Silva 
  29. Rogério Pacheco Jordão 
  30. Rubens Naves 
  31. Sergio Hadad 
  32. Sergio Storch 
  33. Vitor Morgensztern