TB denuncia criação de “emendas de liderança” inconstitucionais e Dino cobra explicação do Congresso Nacional

Após denúncia da Transparência Brasil no início de abril, o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, cobrou explicações do Congresso Nacional sobre suas comissões atribuírem a líderes partidários a autoria de indicações das emendas de 2024. 

Em duas das sete comissões da Câmara dos Deputados que validaram as indicações do ano passado até o momento, indica-se “líder de partido” como apoiador de emendas, sem revelar o nome da pessoa. A prática cria “emendas de liderança”, que não existem na Constituição Federal, e foi denunciada à Suprema Corte em parceria com a Transparência Internacional – Brasil e a Associação Contas Abertas. 

Em seu despacho de 25.abr, Dino afirmou que as entidades “sustentaram o descumprimento” da lei que dispõe sobre a proposição e a execução de emendas parlamentares (LCP 210/2024) e das decisões do STF. Os dados que identificam as irregularidades foram extraídos das planilhas das comissões do Senado e Câmara, compilados pelas organizações e apresentados ao ministro. O Congresso deve responder ainda nesta semana. 

Outras irregularidades

A TB e parceiras também pontuaram ao ministro do STF graves problemas nos modelos propostos pelo Congresso para registrar as indicações de emendas de comissão e de bancada, por não conterem campos de identificação nominal do parlamentar propositor. 

Na ata de reunião das comissões, por exemplo, as emendas indicadas por bancadas partidárias poderão ficar registradas sob a indicação do líder da legenda, pois não há campo para registro do deputado ou senador que patrocinou cada indicação na reunião da bancada. 

Reprodução do Anexo III da Resolução CN nº 1/2025, evidenciando a ausência de campo para identificação do parlamentar patrocinador da indicação feita pelo líder partidário à comissão.

Na prática, abre-se brecha para que os parlamentares se escondam sob o líder partidário e se utilizem desse artifício para ocultar informações, como feito no Orçamento Secreto. Tais apontamentos, no entanto, foram descartados por Dino. Segundo o ministro, como os parlamentares podem fazer indicações diretamente à comissão sem passar pelo líder partidário, não há necessidade de que as atas de bancada partidária contenham a identificação dos congressistas autores/patrocinadores das emendas naquele contexto.