Na direção da TB, Cláudio Weber Abramo criou um legado de luta pelo acesso à informação e interesse público

Ex-diretor esteve à frente da organização por 15 anos. Esta é a segunda de uma série de reportagens sobre os 25 anos da TB

Cláudio Weber Abramo (1946-2018) é referência em combate à corrupção, luta pelo interesse público e pioneiro do jornalismo de dados. Foto: Clayton de Souza/Estadão

“Não se combate a corrupção a partir de um ponto de vista moral. A oportunidade que existe nas relações dos organismos com a sociedade está lá independentemente das pessoas. Você ataca a corrupção reduzindo a possibilidade de o agente público exercer o ato”. A frase é de Cláudio Weber Abramo, economista, pioneiro do jornalismo de dados no país e diretor-executivo da Transparência Brasil por 15 anos, em sabatina no Roda Viva de 13.set.2009. 

À época do programa, ele completava quatro anos no cargo em que permaneceu até 2015. Filho do também jornalista Cláudio Abramo, o ex-diretor era formado em matemática pela USP e mestre em filosofia da ciência pela Unicamp. Foi editor de economia da Folha de S. Paulo e secretário-executivo de Redação da Gazeta Mercantil.

Abramo entrou na TB em 2000, primeiro como secretário-executivo, ao lado do diretor à época e presidente do Conselho Deliberativo, Eduardo Capobianco, e assumiu a direção no mesmo ano. Crítico de mitos sobre a corrupção, fez grandes defesas do levantamento sistemático de dados da gestão pública e de sua divulgação acessível, de maneira a municiar a própria administração e a sociedade com informações sobre seu funcionamento. 

Segundo Capobianco, a missão de ambos à frente da organização era buscar e padronizar dados públicos para que a imprensa e a população pudessem compreender informações importantes sobre o país. “O modelo [da TB] serviu a outras organizações. Mas não é um trabalho simples. Tem que ter persistência e acreditar no que está fazendo”, recorda Capobianco. 

A crença em trabalhar pelo interesse público era uma das características de Abramo, que aprendeu a programar e realizar raspagem de dados aos 60 anos, de acordo com o ex-coordenador de projetos da TB Fabiano Angélico. O ex-diretor difundiu seu rigor e persistência na busca por fatos e dados empíricos, criando um legado no método de trabalho da Transparência Brasil. 

“A abordagem na TB para esse fenômeno [da corrupção] nunca foi moralista, sempre foi baseada em dados e evidências. E o Cláudio era obcecado em ir atrás de dados”, afirma Angélico. 

Sob a direção de Abramo, a Transparência Brasil conquistou o prêmio Esso de Jornalismo em 2006 com o projeto Excelências. A iniciativa vanguardista mapeou o perfil de parlamentares em exercício, centralizando dados, como a evolução patrimonial e os processos judiciais aos quais alguns deles respondiam ou pelos quais haviam sido condenados, em uma época em que essas informações não eram de fácil acesso à sociedade.

O papel fundamental da TB para garantir que a Lei de Acesso à Informação (LAI) fosse aprovada e aplicável a todos os níveis e poderes se deu sob a direção de Abramo, como ele próprio narrou ainda em 2009. Em artigo para a Folha de S. Paulo, o ex-coordenador Angélico e o atual conselheiro da TB Marcelo Issa destacam a atuação do ex-diretor como “decisiva para articular, propor e defender a necessidade de organizar a abertura de informações detidas pelo Estado”, à época em que o Brasil era um dos poucos países que não dispunha de legislação. 

Já em 2018, aliás, o matemático antecipou que a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) seria distorcida para promover retrocessos na transparência pública – tema sobre o qual a TB tem se debruçado com frequência.

Cláudio Weber Abramo morreu em 12 de agosto daquele ano. Em homenagem à sua luta pelo acesso à informação e seu pioneirismo no jornalismo de dados, foi criado o Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, que incentiva o uso de dados em produções jornalísticas no país. O prêmio é realizado desde 2019 pela Escola de Dados da Open Knowledge Brasil, com apoio da TB e da Abraji.

“Cláudio foi um parceiro muito importante e uma pessoa muito inteligente”, afirma o presidente do Conselho da Transparência Brasil, Eduardo Capobianco, que também é um dos associados fundadores da organização. “Quando você traz pessoas inteligentes para trabalhar temas importantes, tudo fica mais fácil, né? As coisas crescem”, diz.

As falas de Abramo no Roda Viva de 2004 seguem vivas. Em 25 anos de história, a Transparência Brasil mantém seu legado de negar moralismos e soluções fáceis para o combate à corrupção e lutar pelo interesse público.