Em 2017, o município de Araucária (PR) realizou licitações com o objetivo de contratar empresas para a construção de três creches. Essas três obras integravam o conjunto das 135 obras, de 20 municípios diferentes, selecionadas pelo projeto Obra Transparente para serem monitoradas por organizações da sociedade civil local. No caso em questão, eram monitoradas pelo Observatório Social de Araucária.
O projeto buscou ampliar a capacidade de monitoramento de obras pelas ONGs locais. Para isso, a Transparência Brasil e o Observatório Social do Brasil desenvolveram uma metodologia de monitoramento que permite avaliar tanto a adequação dos processos licitatórios quanto o andamento das construções. Isso foi possível especialmente mediante a capacitação das equipes das organizações locais e a participação de engenheiros e advogados voluntários dotados dos conhecimentos técnicos necessários para realizar análises qualificadas.
No caso dessas três obras de Araucária, a análise dos especialistas técnicos incluiu visitas aos três locais previstos para a construção das unidades, em conjunto com os voluntários do Observatório, para verificar presencialmente se o planejamento da obra estava de acordo com as condições físicas dos terrenos selecionados para sua construção.
Após a realização de análises in loco pelos engenheiros, a equipe chegou à conclusão de que os custosos muros de arrimo incluídos no projeto eram desnecessários, uma vez que poderiam ser substituídos por soluções de menor custo mediante alguns ajustes no projeto básico. De acordo com o projeto original, esses muros de contenção custariam, sozinhos, R$1.577.338,57, cerca de 16% do custo total das obras.
Paralelamente, a análise dos processos licitatórios revelou outro problema: uma mesma empresa teria vencido as três licitações, obtendo contratos com a Prefeitura que totalizavam R$7,8 milhões. Não obstante, a empresa havia sido criada há 8 meses e seus documentos contábeis não demonstravam real funcionamento – muito menos a capacidade técnica necessária para realizar essas construções. Além disso, seu atestado para habilitação em licitações fora emitido por uma associação cujo presidente era o próprio administrador da empresa. Este, por sua vez, era pai do sócio registrado como proprietário.
Ao apresentarem essas constatações à Prefeitura, a mesma alegou que nada poderia ser feito, uma vez que as licitações já haviam sido concluídas e os contratos, firmados. Em relação à empresa contratada, alegou que esses indícios não seriam suficientes para caracterizá-la como inidônea. Nessas condições, a Transparência Brasil e o Observatório Social do Brasil enviaram as provas encontradas ao TCU.
Após examinar as evidências apresentadas, o TCU finalmente determinou que as licitações fossem anuladas e refeitas, utilizando soluções de maior custo-benefício em relação aos muros de arrimo. No novo processo licitatório, o custo caiu para R$416.883,17, uma redução de mais de 1 milhão de reais, totalizando 74% a menos que o valor inicialmente cotado. Para se ter uma idéia do impacto da redução no orçamento municipal, a economia nessas construções representou cerca de 3% de todos os investimentos do município em 2018.
Em um único município, o projeto Obra Transparente teve mais impacto na economia de recursos públicos do que o custo total de seu financiamento para a UNDEF, entidade apoiadora (US$ 220.000,00). Mas não para por aí: obtivemos muitos outros avanços, como a melhoria na qualidade das construções entregues, o aumento da capacidade das ONGs locais em monitorar obras públicas, a formação de uma rede de organizações voltada à fiscalização do poder público e a intensificação do trabalho voluntário nas organizações. Ainda que esses benefícios sejam mais difíceis de quantificar, seu impacto no fortalecimento do controle social a nível municipal é notório.