Quem costuma participar das discussões por mais dados abertos e tecnologia na promoção de governos mais transparentes e responsivos?
A resposta é fácil: homens são maioria; pessoas brancas, maioria esmagadora. A consequência disso não é muito difícil de antever: políticas públicas menos eficientes para dar conta da maioria da população – principalmente no caso de países desiguais e segregados como o Brasil.
Foi a partir dessa perspectiva que a Transparência Brasil idealizou o projeto Minas de Dados: Mulheres negras, narrativas e tecnologias para governos abertos. Com o objetivo de formar mulheres negras para ocuparem esses espaços, o programa oferece uma imersão expressa sobre como usar dados abertos na promoção de temas raciais e de gênero no debate público.
O projeto é uma parceria com o data_labe e a Preta Lab, ambas organizações do Rio de Janeiro, com um financiamento-semente da Organização dos Estados Americanos. A ideia é que esta seja a primeira de várias turmas que, ao longo dos anos, formarão mulheres negras para ocuparem espaços nos governos, em organizações não-governamentais e em empresas de tecnologia.
Nesta primeira edição, 5 mulheres foram selecionadas – três do Rio de Janeiro, uma de Salvador e uma de São Paulo, com idade média de 27 anos e com alguma experiência ou em ativismo cívico ou programação/análise de dados. Todas ganham uma bolsa-auxílio para se dedicarem exclusivamente à imersão por quatro semanas, com atividades no Rio de Janeiro e em São Paulo.
O programa está dividido em quatro módulos, que vão cobrir: dados abertos e construção de narrativas; introdução à programação e visualização de dados; questões raciais, transparência e participação cívica; mentoria de projetos individuais. Ao fim do programa, elas apresentarão sua ideia de projeto individual a uma plateia de convidados.
Segundo um estudo do Carter Center, mundo afora mulheres nem chegam a ser metade dos participantes dos comitês responsáveis pelos planos nacionais de governo aberto – uma proxy importante da participação das mulheres nos movimentos por mais transparência e participação cívica. No Brasil, elas formam 38% dos membos do grupo executivo do Comitê InterMinisterial para Governo Aberto, segundo informações contidas nas últimas atas disponíveis no site da antiga CGU. Não há dados sobre participação de mulheres negras nesses espaços, mas nossa experiência nos leva a crer que é quase nula.
Transicionar de um modelo de democracia representativa com governos fechados e opacos para um modelo de democracia aberta, com governos transparentes e responsivos ao monitoramento e à participação cívica, implica não só uso de tecnologia e dados públicos; implica a construção de políticas de inclusão, abrindo espaço para mais atores nessa tomada do governo. E mais atores certamente implicam outras perspectivas e outros temas prioritários trazidos à mesa. É o ganha-ganha em eficiência e responsividade que é parte central da promessa de governos mais abertos.
Minas de Dados, esse mundo é de vocês.